País de Gales tem na Copa chance para reforçar a identidade nacional de seu povo


País de Gales tem na Copa chance para reforçar a identidade nacional de seu povo

Tida como a maior geração na história do país, a seleção galesa coleciona conquistas nos últimos anos e é elemento para reforçar a identidade nacional de um povo e nação que ainda estão alinhados ao Reino Unido

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Por: , 20/11/2022

País de Gales tem na Copa chance para reforçar a identidade nacional de seu povo

Campinas, SP, 20 – Após 64 anos, País de Gales conseguiu sua segunda classificação para a Copa do Mundo do Catar – a primeira havia sido em 1958, na Suécia. Tida como a maior geração na história do país, a seleção galesa coleciona conquistas nos últimos anos e é elemento para reforçar a identidade nacional de um povo e nação que ainda estão alinhados ao Reino Unido.

Gales conquistou sua classificação em junho, após derrotar a Ucrânia por 1 a 0 – gol de Gareth Bale, ídolo do país. Antes mesmo desta vitória, já se sabia que, caso avançasse ao Catar, jogaria contra a Inglaterra na fase de grupos. Membro do Reino Unido, o país não é independente, apesar de gozar de certa autonomia em relação à sua vizinha.

O futebol é uma possível ferramenta para a criação de uma identidade nacional. A ausência do País de Gales da principal competição do mundo foi sentida em sua população. Nas últimas décadas, alguns valores da cultura galesa foram deixados de lado: o galês, uma das línguas oficiais do país, é falado por apenas 30% dos habitantes e nos anos 80 cerca de 80% dos cidadãos foram contra a criação de um parlamento próprio.

Laura McAllister, ex-jogadora e capitã da seleção galesa feminina, sente essa mudança no futebol do país. “Se você pensar onde estamos agora, nunca vi nada parecido na minha vida torcendo pelo País de Gales, e fui ao meu primeiro jogo quando tinha três anos porque meu avô era um grande fã do Cardiff City e do País de Gales, então sempre foi uma grande parte da minha vida”, afirmou, em entrevista à BBC neste mês.

O sucesso de Gales em 2022 é fruto de um trabalho em conjunto com a Federação e sua própria torcida. Em 2016, a seleção alcançou as semifinais da Eurocopa; em 2021, disputou sua segunda competição continental consecutiva, algo inédito em sua história. Para atingir esse sucesso, um nome foi crucial para a mudança e construção de legado em Gales: Gary Speed.

Treinador do País de Gales, ele comandou a seleção por pouco menos de um ano em 2011, mas foi fundamental para pavimentar uma geração de jogadores. Nascido em Mancot, Speed era apaixonado pela cultura galesa e ordenou que os jogadores aprendessem o mínimo da sua língua para cantar o hino. Quando chegavam ao time pela primeira vez, eles recebiam educação sobre a história cultural e social do país. “Estamos todos aprendendo”, disse o atacante do Millwall Steve Morison em 2011, em entrevista ao The Guardian. “Recebemos a versão galesa e a versão fonética.”

Além de resgatar a cultura do país em uma seleção composta por jogadores que atuam, em sua maioria, no futebol inglês, ele foi responsável por dar espaço a novos jogadores na equipe. Aaron Ramsey, que aos 20 anos se tornou o capitão mais jovem da história de gales, e Gareth Bale são alguns desses nomes. Em novembro de 2011, Speed morreu aos 42 anos, vítima de suicídio.

Embora tenha sido uma curta passagem na seleção galesa, mais de 10 anos depois a Federação ainda reconhece os esforços do treinador para a consolidação deste planejamento. A convocação deixou de ser um estorvo aos jogadores – que deixariam de servir seus clubes por duas semanas – para ser motivo de orgulho em representar sua nação internacionalmente.

NACIONALISMO O sucesso de Gales dentro de campo ajudou a fortalecer a identidade de seu povo. Ao longo da campanha nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, uma música ganhou força: “Yma o Hyd” (“Ainda Aqui”, em tradução livre do galês para o português). Composta por Dafydd Iwan em 1983, a canção retrata um povo que busca sua autonomia em meio ao domínio do Reino Unido – à época, tinha Margaret Thatcher como sua primeira ministra.

Nos vídeos e publicações oficiais da equipe nas redes sociais, a canção foi utilizada – junto a fotos históricas do passado do País de Gales no século passado – na comemoração da classificação da equipe. Manifestações contra o Príncipe Charles, então detentor do título de Príncipe de Gales, e vídeos da Copa de 1958, a única disputada pela seleção, marcam essa produção. A canção “Yma o Hyd”, interpretada por Iwan, se tornou um hino “não oficial” da equipe, sendo interpretada após a vitória sobre a Ucrânia nas Eliminatórias.

A formação de uma identidade nacional faz, inclusive, com que a seleção cogite reforçar suas origens: a língua galesa. Após a Copa do Mundo, a Federação do país planeja alterar seu nome junto à Fifa, de “Wales” para “Cymru” – “Gales”, em tradução livre. A denominação já é utilizada pela equipe em campanhas de divulgação, nas redes sociais e nas competições internacionais. Na entidade máxima do futebol, o termo adotado é aquele na língua inglesa.

“O time sempre deve se chamar Cymru, é assim que o chamamos aqui”, afirmou Noel Mooney, presidente da Federação de Futebol de Gales. “Nossa visão no momento é que domesticamente somos claramente chamados de Cymru. É assim que chamamos nossas seleções nacionais. Se você olhar para o nosso site, como falamos sobre nós mesmos, somos muito Cymru.” A mudança, caso siga em frente, deve seguir também para os clubes galeses, como Swansea e Cardiff City.

Para os galeses, esse é o maior momento da nação em sua história. “Penso que o futebol já se tornou maior do que o Rúgbi aqui”, afirma Duncan Brown, 38 anos, Youtuber galês e organizador de eventos. “O futebol e a seleção unem o país após anos difíceis de pandemia. O País de Gales está pronto para ser visto pelo mundo.”

Em 2016, após o Brexit – saída do Reino Unido da União Europeia -, partidos nacionalistas de Gales pediram para que o país se separasse em definitivo da Inglaterra. Os títulos de “Príncipe de Gales”, hoje conferidos a William, também são questões divergentes no imaginário popular galês. O monarca, apesar de sua relação com Gales, torce pela Inglaterra na Copa do Mundo e participou de campanhas da seleção antes do Mundial.

“Os títulos que Charles e William possuíram nas últimas décadas não são unanimidade em nosso país. Por outro lado, o Príncipe já afirmou que torce por Gales no Rúgbi”, conta Brown. “Como território da Grã-Bretanha, desejarão o melhor desempenho possível a Gales no Mundial. Temos a ‘A Grama Verde, Verde de Casa’, como diria Tom Jones.” A fala do galês faz referência à música “Green, Green Grass Of Home”, interpretada pelo cantor e compositor do Reino Unido, e faz referência aos vales do País de Gales.

Antes de enfrentar os vizinhos da Grã-Bretanha, Gales joga contra os EUA e o Irã, na primeira e segunda rodada respectivamente. Repetir a campanha de 1958 seria algo histórico. 64 anos depois, o povo e a equipe querem provar ao mundo que “Ainda Estão Aqui”.

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